Cefas Carvalho
Escritora, cordelista, dramaturga,
atriz, diretora, entre outras atividades profissionais, a paraibana
Clotilde Tavares é uma workhaolic multifacetada que há décadas milita na
cultura natalense, sempre mostrando inquietação, criatividade e
talento. Em entrevista para o Potiguar Notícias, Clotilde falou sobre
suas atividades culturais, processos criativos, política cultural
natalense e potiguar e também sobre o título de cidadania natalense que
irá receber, já tendo sido votado e aprovado na Câmara Municipal de
Natal. Confira:
A sra. foi indicada para receber o
Título de Cidadania natalense, através de proposição do vereador Hugo
Manso na Câmara Municipal. Qual a sensação de receber este
reconhecimento?
-Eu moro em Natal há 43 anos e amo esta cidade como
se tivesse nascido aqui. Então foi com uma grande alegria que recebi
esse título, que para mim funciona como um reconhecimento e retribuição
pelo meu trabalho. O vereador Hugo Manso é um grande parceiro para todos
os que militam na cultura do estado. Eu também queria dizer que as
pessoas hoje me conhecem como artista e agente cultural, mas é preciso
lembrar que cheguei aqui em 1970 para estudar Medicina. Desde 1973,
ainda estudante, comecei a trabalhar na área da Saúde Pública. Passei
quase vinte anos trabalhando, como professora da UFRN, nas épocas
heróicas de implantação do SUS e dos PSFs, atendendo nos bairros pobres,
nas favelas, pesquisando, publicando trabalhos e percorrendo o estado
em palestras e cursos sobre aleitamento materno e nutrição infantil. Fiz
Ciência durante muito tempo, e a Arte era apenas nos finais de semana,
até que em 1990 resolvi me dedicar somente às atividades artísticas e
culturais, transferindo-me da área de saúde para o Departamento de Artes
da UFRN. Então, estou certa de que venho dando o que tenho de melhor a
esta cidade, por mais de quarenta anos, e estou pronta e animada para
mais outros quarenta.
Um texto seu, Os perigos de Vitória, foi
encenado com sucesso na Casa da Ribeira recentemente. Como surgiu esse
texto e qual o processo criativo dele (da encenação)?
- Os perigos de
Vitória é um espetáculo que resultou do projeto Cena Aberta Formação,
da Casa da Ribeira, que se propunha a montar um espetáculo de teatro com
foco na formação de novos atores. O diretor Henrique Fontes ficou à
frente do projeto e me convidou para escrever o texto. Combinamos ele e
eu quais seriam as questões que a peça deveria levantar, que idéias e
valores ela defenderia, que impressão ela deveria suscitar na mente de
pais e filhos que a assistissem. Em cima disso eu criei uma história de
uma menina – a Vitória, do título – que está prestes a completar 12 anos
mas se assusta com a possibilidade de crescer. O medo, brigando com a
coragem, a lança numa aventura cheia de perigos.
A senhora é
atriz, dramaturga, diretora, e também professora e escritora. Quais
dessas atividades lhe dá mais prazer e mais pretende se dedicar neste
momento?
Todas essas atividades me dão prazer e sempre estou fazendo
todas. Agora mesmo estou começando a escrever um livro (de encomenda,
para um cliente), fazendo a correção final em outro que pretendo lançar
ainda este ano, criando um espetáculo de teatro para mim mesma, pois
pretendo estar no palco em 2014 como atriz, e cheia de palestras e aulas
em cursos. Eu me aposentei da docência na UFRN em 2002, mas de lá para
cá não parei de trabalhar. Acho mesmo que estou trabalhando muito mais.
Acho ótimo.
Há quem ache que Natal está passando por uma
efervescência cultural neste momento, principalmente em música e em
teatro (área em que a sra. milita). Concorda com esta afirmação?
Todos
os artistas que conheço estão produzindo, não só nessas áreas como em
outras. O artista de verdade produz por um impulso interno, muitas vezes
independente da vontade dele. Conheço gente que adoece se por acaso não
puder se dedicar à sua arte.
Qual sua opinião sobre as políticas culturais - se é que existem - da Prefeitura de Natal e Governo do Estado?
Durante
quatro anos Natal amargou um desastre completo na administração
pública, em todos os setores. Não existiram ações públicas de qualidade
na área da cultura, e os equipamentos que existiam foram simplesmente
destruídos, para usar uma imagem suave. Agora, com o prefeito Carlos
Eduardo, há uma imensa tarefa de reconstrução dessa terra arrasada e
muito esforço para recuperar a credibilidade nas ações da prefeitura.
Como ele escolheu pessoas sérias para os cargos na área cultural, tendo à
frente Dácio Galvão, eu acredito que as coisas vão melhorar. A nível de
governo estadual continuo vendo a mesma antiga política de eventos, e
muitos equipamentos importantes desativados ou sem manutenção adequada.
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