sábado, 19 de janeiro de 2013

O Projeto "Myrian Rios": Entre denunciar uma hipocrisia e respeitar o direito de mudar de idéia e de vida

Cefas Carvalho

O projeto de lei chamado "Programa de resgate de valores morais, sociais, éticos e espirituais", de autoria da atriz e deputada Myrian Rios (PSD-RJ) e sancionado na quinta-feira pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral vem gerando polêmica nas redes sociais. Seria de se esperar. Conhecido como "Projeto Myrian Rios", ele trata de coisas abstratas. O que são valores morais? O que seria um valor espiritual? Por si só, e em tempos de defesa dos direitos humanos e individuais, o projeto já seria uma aberração. Ser sancionado por um governador dito progressista, outra aberração.
Mas, há uma terceira aberração enviolvendo essa história, essa de cunho pessoal e ainda mais delicado. É que a deputada católica que elaborou o projeto, como se sabe, é ex-atriz e modelo, envolveu-se amorosamente com celebridades (Roberto Carlos e André Gonçalves, entre outros), e chegou a posar nua para revistas eróticas masculinas.
Claro que como seria de se prever (menos para a deputada e seus assessores), haveria reação ao projeto polêmico e essa reação, também era prevista: Internautas vem enchendo as redes sociais de fotos da parlamentar nua ou em poses eróticas, quase todas de ensaio da revista Ele Ela.
Muitos amigos meus compartilharam as fotos, em mais uma campanha pelas redes sociais. O objetivo é nobre, mostrar que Myrian é hipócrita, contraditória. Certíssimo. A moça posa nua e vinte anos depois quer fazer lei sobre "valores morais".
Contudo, até que ponto uma pessoa não tem o direito de mudar de vida, mudar de idéia? Mais que isso: uma pessoa tem o direito de ter seu passado revirado e ressuscitado porque hoje quer aplicar uma regra que não se adequa a esse passado?

Confesso que o paradoxo me deu um nó ético. Conversei sobre o tema com amigos virtuais e reais e da mesma forma que as opiniões se dividem, também não consigo chegar a conclusão nenhuma. Por um lado, tenho vontade de denuncar a hipocrisia da deputada ex-atriz. Por outro lado, também acho covardia resgatar o passado de alguém para criticar um ato presente.
Fica a pergunta: Se Myriam no passado fosse católica conservadora e hoje, trinta anos depois, acreditasse que antes estava errada e defendesse direitos como o do casamento entre pessoas do mesmo sexo e legalizção do aborto? Como seria a reação da opinião pública?
Não se trata de advogar para a deputada nem de minimizar seu projeto. Não. Considero Myrian uma aberração política, suas opiniões ridiculas e seu projeto uma bela bosta. Mas, também sou obrigado a  - filosoficamente, a la Voltaire, digamos - aceitar que uma pessoa possa mudar de opinião sem necessariamente ter seu passado achincalhado.
Contudo, trata-se de pessoa pública, sei. Tanto antes, como modelo que mostrava as formas em revistas masculinas, como hoje, deputada estadual no estado do Rio de Janeiro.
Bem, o nó continua. Um lado meu tem vontade de compartilhar as fotos de pouca ou nenhuma roupa da ilustre parlamentar para denunciar, mais que sua hipocrisia, sua idiotice mesmo. Outro lado meu, se preocupa com linchamentos morais com base no que uma pessoa - Myrian, eu ou você, leitor - fez há décadas, na juventude. Agora é hora de desatar o nó ético, se eu conseguir. Com licença.

Um comentário:

  1. Entendo o seu ponto de vista, amigo, e concordo com a essência dele. Também creio que as pessoas tenham todo o direto de mudar de opinião e o fato de Myrian Rios ter posado para essas revistas não descaracterizaria este projeto. A questão seria que eu realmente não creio que ela realmente sinta o que fala. Endossado por comportamentos anteriores, pra mim é muito claro que essa senhora é uma hipócrita que se utiliza ardilosamente da ingenuidade e também da hipocrisia de muitos outros que pensam como ela. O problema estaria aí. E confesso que me aterroriza quando o governo começa a endossar atitudes desse porte. Educação, saúde e segurança ninguém quer dar, mas aprovar projeto de moral e bons costumes sim.

    Ótimo texto, por sinal!

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