segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Entrevista: Julio César Pimenta fala sobre MPBeco, mercado musical e política cultural

Cefas Carvalho

Produtor Cultural e militante do movimento cultural Beco da Lama, Julio Cesar Pimenta vem se destacando no cenário cultural da capital potiguar produzindo (em parceria com Dorian Lima) eventos que vem ganhando destaque, como o festival MPBeco e o bloco carnavalesco Manicacas do Frevo. Natalense de recém-completados 50 anos, frequenta o centro histórico desde 1985, e chegou a fazer parte da diretoria da SAMBA – Sociedade dos Amigos do Beco da Lama e Adjacências. Confira a entrevista:

Você é um dos diretores do bloco Manicacas do Frevo. Fale um pouco sobre como surgiu o bloco e como ele funciona?
O bloco surgiu da necessidade de movimentar, cada vez mais, o Centro Histórico da cidade. O Manicacas no Frevo veio da raiz de outro bloco fundado por amigos, que era o MarcaPasso. Junto com Dorian Lima, Fábio Eduardo e Venâncio Pinheiro, fundamos o bloco para brincar com a idéia da figura do “manicaca”. A cada ano Fábio Eduardo cria uma arte e colocamos, a duras penas, o bloco na rua. Nos três primeiros anos saindo junto com a orquestra da Banda da Ribeira nos sábados de carnaval e a partir do quarto ano abrindo o carnaval nas sextas feiras de momo. Juntando forças com a SAMBA, o bloco sai às ruas do centro histórico arrastando as pessoas até o Baile à Fantasia do Centro Histórico, que ocorre no mesmo dia. O bloco é aberto, sem cordas e com orquestra de frevo visitando os bares do centro. Este ano a concentração será no Bar de Zé Reeira, no dia 8 de fevereiro, a partir das 18 horas. Esperamos todos lá.

“Manicaca” é o homem que é mandado pela mulher e faz parte do folclore social nordestino. Como funciona a eleição do Manicaca do ano e como é a receptividade dos “eleitos”?
O eleito é sempre aquele que realizou um ato de “Manicaquice” ou é sempre flagrado junto com sua companheira. Uma brincadeira para animar e divulgar o bloco. O primeiro eleito foi o jornalista Alex de Souza. Na segunda eleição houve um problemão: o eleito, Fábio Henrique Lima, não apareceu pra receber o Troféu Rolo de Macarrão, nem enviou representante. Resolvemos dar o Bi Campeonato para Alex de Souza (O único Manicaca do Ano reeleito). Ainda teve Sérgio Vilar, Kilder Medeiros e o último, que foi Tertuliano Aires, o famoso Cabrito. Na verdade nunca houve uma eleição, é uma escolha pelos atos do sujeito. Ressalve-se que os diretores do bloco são imunes, ou seja nunca serão eleitos...

Você, juntamente com Do­rian Lima, é o mentor e organizador do festival MP­Beco. Como nasceu este e­ven­to e como foi seu crescimento?
O MPBeco surgiu de uma ideia de Dorian Lima, que desejava realizar um festival de música não competitivo no Centro Histórico. Junto com Christian Vasconcelos, mudamos o formato para a competição com premiação, pois dessa maneira grupos, compositores e intérpretes desconhecidos ou sem meios de mostrar seus trabalhos, teriam a mesma oportunidade que os já conhecidos e que sempre se apresentavam em eventos. Daí surgiu o evento que colocamos na rua com a parceria do Programa Djalma Maranhão e nesses anos todos temos parceiros como a Destaque Promoções, que desde o primeiro MPBeco é nossa parceira. Este ano aglutinamos mais uma parceria, que foi a Unimed. Outro grande parceiro foi a Cosern, através da Lei Câmara Cascudo. E este ano fomos premiados através da Funarte com Prêmio ProCultura.
O evento cresceu pela qualidade da música apresentada. Esse foi o diferencial que fez o evento se desenvolver. Com o crescimento, tivemos a chance de trazer artistas nacionais. Criamos o MPBeco em Foco, que é um concurso fotográfico, com premiação, para fotos realizados nos três dias do evento. Disponibilizamos barracas para artesãos apresentarem e comercializarem seus trabalhos. Através da TV Assembléia durante três anos o evento foi transmitido “ao vivo” para todo o estado e hoje é gravado e apresentado na grade da TV. Acreditamos ser um evento consolidado dentro do calendário cultural do estado e fora dele.

Na última edição do MPBeco, houve polêmica em relação a cachês diferenciados para artistas “nacionais” e “locais”. Como lidar com essa questão delicada, já que passa por questões não apenas de talento do artista, mas de mercado?
Esse é um problema não nosso, mas de todo o país. Nos dois primeiros anos abrimos espaço no final da competição para grupos do estado se apresentarem no fechamento de cada etapa. A partir do terceiro ano começamos a trazer grupos ou artistas de fora. Cada artista tem seu valor de cachê, isso é de cada um. Para as apresentações locais definimos um valor igual para todos e negociamos o cachê dos artistas nacionais. E acredito que quem faz o cachê é o mercado. É difícil resolver tal problema, já que cada artista tem seu valor, seja nacional ou não.


Como você está vendo essa nova gestão da Samba, entidade que milita pela efervescência do Beco da Lama e do centro histórico de Natal?
Já fiz parte de duas diretorias da Samba, e na última eleição trabalhei para a eleição de Dorian Lima, que aglutinou nomes muito bons para sua diretoria, mas não faço dessa nova gestão. Vejo com bons olhos. Acho que farão uma boa gestão, pois são pessoas ligadas à cultura e com boa vontade. Boto fé.

 A gestão municipal passada não se deteve no Centro Histórico de Natal e recebeu muitas críticas por isso. Qual a sua expectativa em relação a administração que começou?
Sobre a administração de Micarla de Sousa na prefeitura nada a declarar, pois não houve nada mesmo. Quanto a nova administração, penso muito positivamente. Trabalhei como convidado em vários eventos da administração Dácio Galvão na Funcarte e sei que fez um bom trabalho. O grupo que ele está trazendo pra trabalhar com ele, as ideias e o plano para a cultura, principalmente na expectativa que será criada a Secretaria Municipal de Cultura, com orçamento para a realização de uma política cultural eficiente para a cidade.

Fala-se frequentemente no Beco da Lama como um ponto da antiga boemia natalense. Mas, também se observa cada vez mais jovens freqüentando os eventos do centro histórico. O Beco está passando ou vai passar por uma espécie de “renovação”?
Espero e trabalho pra isso. Vários e bons eventos ocorrem no centro da cidade trazendo os jovens. Hoje existe um boom de Samba no Centro Histórico que está contribuindo muito. O MPBeco, a instalação do IFRN Centro que está sendo referência em Natal e com um curso de Produção Cultural. Os eventos da SAMBA, etc. Acho que a boêmia não se resume a “antigos”, mas a todos. Vejo famílias em eventos da cidade, avós, pais e filhos, juntos e felizes. Isso é valorizar a sua cidade.


Foto: Arquivo pessoal

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