sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Mas o ódio cega e você nem percebe

Cefas Carvalho

Um internauta posta no Facebook uma foto de Dilma e Lula juntos, sorrindo. Quase imediatamente, outros internautas comentam o post: “Ladra”, “Petralha”, “Impeachment desta canalha”. Outro, posta reportagem sobre estupro de uma jovem na madrugada. Comentários: “Ah, era vagabunda”. “O que essa vadia estava fazendo na rua numa hora dessas?”. Post de um menor preso por furto? Comentários: “Tem é que ser linchado!”. “Criança, nada, é bandido!”. “Tá com pena, leva para sua casa!”.
A verdade é que as redes sociais viraram um barril para se destilar ódio. E muito ódio. Me causa surpresa ver meninas de classe média que devem estudar e passear no shopping ofender políticos e empresários cuja biografia certamente elas desconhecem. E me causa indignação testemunhar, por exemplo, a agressividade com que homofóbicos se referem aos homossexuais e a facilidade com que alguns moradores do Sul-Sudeste ofendem os nordestinos.
Costuma-se explicar esta cultura do ódio em crescendo na internet por duas razões: 1) O anonimato. Entre milhões de usuários  da rede quase todos são verdadeiros anônimos e isso os deixa impunes. Se o cara chamar a vizinha de vagabunda, terá um baita problema com ela e a família dela. Se o fizer como uma atriz, cantora ou uma internauta igualmente anônima pelas redes sociais, dificilmente sofrerá qualquer tipo de sanção. 2) A banalização da opinião. Com a democracia virtual surgida com a redes, o que é saudável, qualquer um pode dar sua opinião sobre qualquer assunto, o que também é saudável. O problema surge quando essa opinião e o direito de tê-la vem junto com desconhecimento do que se está comentando somado com a cultura de ódio. Exemplo: a partidarização do julgamento do STF no caso do mensalão. Uma coisa é defender seus pontos de vista. Outra é ofender moralmente Lewandowski, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Joaquim Barbosa.
Ainda se discute quais as proporções que esse caldo de ódio poderá tomar. Até porque, como cantou a banda Nenhum de Nós no clássico "Camila, Camila", mas o ódio cega e você nem percebe... Uma incógnita, ainda. O que se sabe é que, por vezes, esse ódio - como um bumerangue - pode se voltar contra quem o lançou, como foi o caso da jornalista natalense Micheline Borges, que no Facebook escreveu que as médicas cubanas tinham cara de empregadas domésticas (sim, preconceito é um tipo de ódio) e foi execrada nas redes sociais a ponto de ter que excluir suas contas nestas redes e corre risco de ter que responder a processos criminais.

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