segunda-feira, 10 de março de 2014

Teresa Freire fala sobre Bandeira Lilás, Movimento das Mulheres e Secretaria da Mulher de Natal

A coordenadora da ONG Bandeira Lilás, a psicóloga e militante pelos direitos das Mulheres, Teresa Freire, conversou com o jornalista José Pinto Júnior no programa Conexão Potiguar (Band) a respeito das atividades empreendidas pela ONG na cidade de Natal, sobre o manifesto em defesa da Secretaria Municipal das Mulheres e também sobre as atividades programadas para o dia 8 de Março.

Qual a missão da ONG feminista Bandeira Lilás?
A Bandeira lilás foi criada há mais de 10 anos, em Natal, por um grupo de mulheres que buscam de forma mais coletiva e organizada discutir as questões específicas relativas à situação da mulher na sociedade, desde a questão da autonomia, da violência, da desigualdade entre gêneros, passando pela qualificação das mesmas. Trabalhamos com a consciência, com a organização, com o debate político, contribuindo para que o movimento de mulheres cresça no Estado e no Brasil.

A ONG também participa de um movimento internacional.
Participamos da “Marcha Internacional das Mulheres”, movimento criado em 2000, presente em vários países, cada um apresentando sua demanda específica, com sua bandeira de luta. Posso destacar dois grandes eixos de combate da marcha: a pobreza e a violência.
De acordo com dados oficiais, entre as pessoas mais pobres do mundo, 70% são mulheres. A sociedade ainda é extremamente desigual e preconceituosa e as mulheres, apesar de terem uma grande sobrecarga de trabalho, ainda são inferiormente remuneradas.

Cerca de 52% dos eleitores no Brasil são mulheres. Ao observar a participação feminina no parlamento, notamos que apenas 10% dos legisladores são do sexo feminino. Por que há essa contradição?
Essa ainda é uma questão que precisa ser compreendida pela sociedade. As mulheres ficaram por muito tempo excluídas, sustentando o trabalho doméstico, são as mulheres que lavam, que engomam, que levam para a escola, que cuidam do pai, da mãe, dos vizinhos, que transmitem o afeto, a solidariedade humana, discutem a subjetividade. Tudo isso a impede de estar no mundo público, pois precisam de um aparato familiar e doméstico que não tem por que o Estado não promove. Por isso reivindicamos políticas públicas que supram essa necessidade, para que as mulheres possam exercer seu papel político, como muitas já exercem. Apesar de ter um número pequeno de representação no Congresso, na Assembleia e câmaras municipais, as mulheres estão em vários espaços, tentando inclusive implementar uma nova visão de mundo, que supera a desigualdade, a inferioridade e que respeite a mulher como humano.

Então a senhora tem uma visão otimista com relação a essa questão? Há em marcha alguma mudança?
Hoje, há uma inserção muito grande das mulheres no espaço público e a sociedade como um todo reconhece isso. Sem deixar de mencionar que as mulheres são muitas vezes, mais qualificadas que os homens, do ponto de vista da escolaridade. Quando ela comanda, organiza, coordena ou lidera uma empresa ou um movimento, observamos que o resultado é bem superior, por incorporar a subjetividade humana, as questões especificas do humano e também as tecnologias.

Do que trata o manifesto em defesa da Secretaria Municipal das Mulheres?   
A reforma administrativa do prefeito Carlos Eduardo desejava extinguir a Secretaria das Mulheres, nós estranhamos a decisão uma vez que ele sempre se colocou como um prefeito que atende as reivindicações da cidade. Durante a campanha se comprometeu, inclusive, em ajudar a qualificar a marcha, ou seja, dar condições para que a secretaria tivesse mais autonomia, e tivesse uma equipe mais qualificada.
Diante disso o movimento se reuniu com os mandatos populares de deputados e vereadores que apoiam a causa, entidades do movimento estudantil e social para tirarmos uma posição coletiva e com ela nos encaminharmos até o prefeito e sociedade para dizer porque é importante ter uma secretaria das mulheres (A entrevista foi realizada no dia 6 de março. Nesta segunda dia 10, o prefeito Carlos declarou que vai manter a Secretaria das Mulheres)

E por que é importante ter uma Secretaria das Mulheres?
A cada 15 segundos, uma mulher é violentada dentro do seu lar, e um dos eixos da marcha mundial das mulheres é exatamente o de combater a violência. No governo federal existe um pacto de enfrentamento da violência através da secretaria nacional, o Rio Grande do Norte se comprometeu com o pacto, mas sem a Secretaria Municipal de Mulheres como isso será discutido e encaminhado?

Fechar a Secretaria seria perder um ente federativo fazendo essa conexão com a política nacional de combate a violência?
Exatamente, sem a Secretaria Municipal não é possível estabelecer convênio com a Secretaria Nacional. E foi isso que dissemos ao prefeito, na presença da deputada federal Fátima Bezerra e do vereador Hugo Manso, dentre outros representantes do movimento. O prefeito ficou de avaliar para então discutir novamente conosco a reorganização da Secretaria.


Foto: Bethise Cabral

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