domingo, 16 de março de 2014

Maria Maria: Poeta seridoense fala sobre arte, erotismo e batalha (vencida) contra câncer

Cefas Carvalho

Poeta de forte teor erótico em sua obra, Maria José Gomes, que adotou o nome literário de Maria Maria, além dos versos, tem se destacando pela coragem com que vem lutando contra (e vencendo) um câncer de mama. Nasceu em Currais Novos, em 15 de outubro de 1966, Maria é  formada em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, com pós-graduação em Literatura Luso-brasileira. Aos 14 anos, escreveu os seus primeiros poemas. Aos 16, o primeiro romance. Recebeu menção honrosa no Concurso de Poesia Othoniel Meneses promovido pela Fundação Capitania das Artes. Publicou contos e poemas na revista Papangu da cidade de Mossoró. Atualmente organiza os blogs literários Espartilho de Eme, Água de Chocalho e Flores do Seridó. Tem diversas obras como: O Despertar da crisálida (conto-novela) 2006, O Cheiro da origem (conto-novela) 2006, Contos de um Passado Perfeito (contos) 2009, Outônicas (poesia) 2011, O Beijo de Eros (poemas) 2012, Algodão e Sal (poesia) parceria com Antônio Francisco e Um sertanejo, Currais Novos e o tempo (historiografia). Confira e entrevista que ela concedeu ao PN:

Quais seus próximos projetos literários?
A minha produção é intensa, escrevo todos os dias, mesmo que apenas um verso, mas escrevo. Tenho, a curto prazo e em parceria com Adelson Filgueira, um dicionário de palavras utilizadas na linguagem do povo seridoense, com especial atenção aos falares dos currais-novenses. Chama-se ÔXE! Esse dicionário tem a finalidade de preservar os valores lingüísticos da região como bem intangível que servirá de subsídio para a produção artística de nosso povo. Além deste trabalho, na ponta da agulha, o livro de poemas Proposta de Chuva, uma seleção de poemas inéditos e o romance Na sétima curva do sol. Gostaria de receber apoio de alguma fundação potiguar para a publicação desse par poesia/prosa que espera ser lido.

Você é conhecida pela poesia erótica e libertária. Como surgiu essa nuance? Fale sobre o tema.
Concordo quando Adelia Prado diz que a beleza está em tudo, inclusive no feio. Sem dúvida, uma vez que “o feio” depende do olhar de quem vê ou lê. Assim acontece com a poesia Erótica ou Libertária. Há quem não enxergue beleza nesse gênero, mas, convenhamos, dá prazer fazer a leitura de um bom poema erótico. A criatividade, em poemas dessa leva, salta do papel e aguça a imaginação. O interessante é isso, é ver a multiplicação da idéia concreta no universo abstrato dos leitores. Mesmo que eu desejasse escrever poemas que fogem ao erótico eu não conseguiria, porque essa relação metafísica que há entre o eu lírico e o eu do poeta é nata, não há como fugir disso. Escrevo porque é vital escrever: é meu alimento, minha prece, meu corpo. Você me pergunta como surgiu essa nuance. Eu diria que já nasci com ela. Produzir poemas que falem de paixão, erotismo e sensibilidade é uma das tarefas mais agradáveis que conheço. A poesia que passeia pelos poemas nos ajuda a levitar e, acredito, esse é um dos seus objetivos, além é claro, de nos fazer mais humanos.

Você lutou contra (e venceu) um câncer de mama e teve coragem de se expor e falar sobre o tema. Relate essa experiência.
O câncer é uma doença preconceituosa. Desde sua descoberta até os dias de hoje é vista como uma patologia incurável, parece sentença de morte... todavia, com o avanço tecnológico e científico, o olhar sobre ele está mudando de configuração. O câncer é igual a outra doença, a questão é que ela assusta e isso acaba fazendo com que as pessoas se apavorem e não procurem o tratamento adequado, o que é lamentável, porque, se diagnosticado precocemente, tem cura sim. Eu descobri o câncer de mama em um exame de rotina. Fui à ginecologista, como costumo fazer anualmente, e durante o exame de apalpação descobrimos um nódulo. Depois disso, começamos a investigação e descobri que se tratava de um tumor maligno. Comecei o tratamento com 8 aplicações de quimioterapia, após essa fase, a cirurgia e agora estou concluindo as radioterapias. Ao final de tudo saí vencendo em vários sentidos: perdi o medo das coisas, aumentei a minha fé em Deus, descobri que sou mais forte do que imaginava, sinto-me bem disposta e feliz. Tudo é uma fase. A vida o é. O que vier para mim é sempre lucro, porque, na entrelinha está a aprendizagem. Vale a pena não ter medo de enfrentar, não só o câncer ou outra doença, mas enfrentar a vida.


Foto: Arquivo pessoal

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